(para renato lourenço de moraes).
(faz) tudo parte de um início. um estalo. um desentalo.
não estou aqui pra descutir pedagogia amorosa. muito menos quero ficar babando ninguém. que me babem. babei.
só sei que ele estava lá, em pé, no meio do mato, rodeado de capim elefante, pra lá e pra cá, por todos os lados. já tinha dado uma espiada através do vidro quebrado da janela.
uma tela de vovó. boa distribuição de cores, mal desenhada. contadora de histórias.
e a caminhada até lá foi ligeira. entre casuarinas e esquilos. vento na cara e pé descalço.
alço um vôo transparente.
esvoaçante.
o amor é aquilo, isso tudo junto, mais um monte de coisas.
das duas uma: ele fica e termina o serviço ou vai pra casa bater um rango. nas duas opções eu me incluo.
então, parei atrás do tronco de uma árvore velha e acendi um cigarro. dava pra ver vários tons de azul no céu. o vento vindo do sul desarrumava nossos cabelos. fiquei observando entre a folhagem. estudando os mínimos detalhes da abordagem.
naquela noite eu partiria rumo ao rio de janeiro, fevereiro, dia 12. aquela paixão pela decadência, pela cadência do samba, o carnaval. havia alguns meses que vivia lá apenas por fotografias, tantas e do mar e um mar de histórias para contar e contatas por amigos encantados.
mas tudo, desde o início, foi vício.
como as seringas achadas nas ruas do centro de curitiba. eles se livram delas, mas daí cinco minutos estão, de novo, morrendo de amores pelas desgraçadas com cerveja.
ou mulheres caídas na augusta, de vestido, com pernas arreganhadas. gritarias arranhadas. você ama e odeia.
uma pausa, um suspiro. não temos pressa. temos o resto da vida.
amor próprio. amor alheio. amor de pica. amor de cu. é tudo amor, meu bem, tudo.
mas tem um porém.
enquanto a gente se engana com toda essa baboseira que as mulheres e os homens falam, falam aqui, ao pé do ouvido, no iphone ou na banheira, esse mela-cueca, essa rasgação, esse tesão desenfreado. é tudo putaria, até a hora. mas hoje e, sempre, as vidas seguem rumos diferentes.
só que ninguém escapa do amor, ninguém.
e o clichê: muito menos da dor.
experiência desonesta.
você abraça a estrela que é o centro de um sistema planetário. é quente demais. importante demais. sem ela você não vive.
fodeu.
respiração ofegante, um aclive, de uma vez só, de uma vez só. engata e vai. chega até a estrela que te ilumina e te aquece.
uma pausa, um suspiro. não temos pressa. temos o resto da vida.
tocam os sininhos, os trumpetes, as flautas transversais, os trombones. tocam até baterias e guitarras. tocam iron maiden e nelson sargento. tocam qualquer coisa.
e enquanto mexia e remexia os cabelos, fazendo charme, ele tirou da mochila uma cerveja.
dei dez passos e pedi um gole.
um avião, uma mão, duas. me refresca, me esquenta. cinco dias.
eu passo tempo, passam as horas. os dias trançando cabelos.
gasto minha saliva com vontade. para degustar, provar, aprovar e reprovar. tudo na hora certa. tudo quanto e quando necessário.
deixa os venenos cuspidos para as serpentes e sapos que tanto você ama.
até então não tínhamos nenhuma testemunha. da troca de olhares... pulamos algumas, muitas etapas até lá. o lá. olá. aquele lá. fazer poesia o tempo todo. sexo é poesia. sonhos desenterrados de vidas e terras. terras cavucadas com colheres de alumínio e olhos sedentos por passados e desentendimentos. sede de felicidade. erros e acertos de uma vida companheira. mediocridade na busca infeliz para a felicidade. copos quebrados, portas partidas. e, partindo desse ponto, não tem mais nada.
o tempo.
tira, de novo, sua roupa e eu tiro a minha. somos nus.
não é brincadeira de casinha. é amor, cacete. daquele que não acaba mais. que faz as pessoas morrerem de inveja e morremos nós, um pelo outro. presente deixado por um tufão que passou e, vira mexe, toca à porta, pra nos dar mais presentes. porta da felicidade verdadeira e inconstante. dos amantes que sobrecarregam as malas de histórias bonitas. romace e tragédia. comédias diárias de sorrisos estampados e eternizados em fotografias preto e branco. gargalhadas com abraços de carinho e carrinho de compras no supermercado de mãos dadas. vinhos e caipirinhas entre velas acesas na beira da piscina.
uma pausa, um suspiro. não temos pressa. temos o resto da vida.
eu, realmente, me importo com trançar cabelos. "até que a morte os separe."