segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Ironia Das Verdades e das Vontades.

_ bom dia. o sr. me desculpa, mas é que eu tô há quatro dias trancada no quarto do exótico do seu filho. passando a água e maçã. preciso ir embora. ele disse que voltaria pra me buscar e não veio. pode me arrumar a passagem?

os olhares envergonhados dos dois se cruzaram entrelaçados com a fresta de luz que vazava da veneziana e fincava na parte inferior de seus corpos, ali, parados.

as nuances, lembranças alaranjadas de uma terça-feira. a fumaça do cigarro, velas acesas, prostitutas com olhos de bolas de gude. osama bin laden e sorvete de cevada.
sansão e dalila morreram de inveja. surpresa pela manhã. a serpente está faminta e temos que alimentar a bichinha, tadinha. galinha, ratinho ou patinho? os olhos dela nos seguem. somos estranhos no seu mundo por mais que a tratemos bem, suria. seu vizinho ignácio é um dorminhoco de plantão. os raios solares, o luar, nada interfere a sua rotina da lâmpada do gênio. genioso, zangado, mas um bom moço, o ignácio.

o barulho do ponteiro do relógio em cima do som e a vuvulzela na janela acabam com o humor de dalila, moça prendada, de bom dote, filhos e uns quilos a mais. ela é doce. sonha e ter uma casinha lá pros lados da serra da cantareira. três quartos. um pra ela e sansão, um pras crianças e outro pros bichos. ela cuidaria do jardim, escreveria alguns romances bebericando vinho tinto, e cozinharia. ela adora cozinhar. sansão sairia pra lecionar e pesquisar algumas espécies de anuros em poças próximas a dalila. aos domingos a casa estaria sempre cheia de parentes e amigos. todos elogiando a vida perfeita do casal.