pediram pra que eu voltasse a atender o telefone. a caixa de mensagens anda lotada. a minha doença não diz nada. mas eu digo que não tenho essa vontade, nem quero ter. o quarto escuro me diz mais do que qualquer outra voz ôca.
não me peça mais uma vez. talvez, um dia, eu volte a abrir a porta. não bata com tanta força. não esmurre. não faça suas mãos sangrarem à toa.
já faz tempo eu vi aquela agulha e a linha cirúrgiacas, ali, por perto do hall de entrada, pensei que um dia fossem derreter. não imaginei que seriam usadas por alguém que tentasse me
atormentar. bem feito. pelo menos, isso.
só quando quero não preciso agradar nem desagradar. apenas, cumprir com minhas responsabilidades.
não quero, mas quero lhe contar que me envolvi com o mecânico. borracheiro. com sua bolinha em cada fim de linha. seus jeans clichês e assobios sombrios, como num filme nacional com lançamento tardio.
pornochanchadas.
e seu cheiro de graxa. sua sujeira. seus sapatos bicolores de bico fino bem lustrados compensam suas unhas sujas. tendo ou não máquina de refrigenrantes por perto, pra gente se refrescar. faço parte das suas tramas e camas. as estradas estreitas ou largas por onde passa e ganha sua miséria consertando os caminhões de motoristas hipocondríacos e cheios de rebites na lata. lataria que conhece cada buraco. cada marca no asfalto, mesmo que usem o piche pra
reconstruir. quatro bolinhas dizem mais do que qualquer psiquiatra com
conta recheada e super carro com tração nas quatro rodas. por isso
comprei um vestido. modelo tipo anos 40. só pra homenagear.
domingo, 20 de dezembro de 2009
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